quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Memória de mosca

Tem dias que eu acordo achando que esqueci de tudo... De como se escreve um texto, de como se toca aquela música no piano, de como se beija, da matéria que vi na faculdade no dia anterior, das roupas que tenho no armário, de como se come comida japonesa com os tais palitinhos, vulgos " Hashi ", não, na verdade não tem como esquecer disso porque é algo que em 19 anos de vida eu não aprendi! Mas enfim, esqueço de tudo, como se minha memória fosse apagada! Me sinto uma mosca, perdida no meio do infinito. Não lembro onde coloquei as chaves de casa mesmo estando com elas nas mãos há 3 segundos, me sinto submersa em um mundo escuro quando não consigo lembrar das coisas. Perder as coisas já é algo frustrante, mas que estou um pouco habituada (perco coisas a todos os instantes da minha vida), agora, esquecer das coisas, nossa, me dá um pânico danado, quero sair correndo gritando pra ver se alguém pode me lembrar de como se faz, quero explicar e jurar pra todo mundo que eu sabia fazer tal coisa melhor do que ninguém, e que é só um pequeno pane no meu cérebro de mosca. Ninguém acredita no que não se pode ver, e se você não conseguir cultivar tudo o que sabe, você é só mais um, sem nenhuma sabedoria em especial. Então, ou você exerce seus conhecimentos ou você já não sabe mais tudo aquilo que podia estar bem guardado na sua memória, é como o baú velho da nossa bisavó, quando ela vai querer abri-lo para te mostrar o conteúdo, já está tudo mofado e sem nenhuma hipótese de uso. Mesmo que falem que nosso cérebro é genial, e é claro que é, ele também é um grande sacana, e adora pregar peças, quando você menos esperar, você já não vai mais saber o que você sempre achou que sabia. Cheguei a essa conclusão hoje, por ser assim, não cultivar o que aprendo e acabar no mundo da ignorância, eu sei que quando eu preciso realmente até consigo lembrar, mas não aprendemos as coisas só para os casos de necessidade, o bom de aprender é poder se beneficiar desse aprendizado a qualquer momento. Eu deveria seguir mais os conselhos que escrevo aqui, se eu seguisse talvez não me sentisse assim, com essa memória de mosca, só mais uma mosca em cima da mesa melequenta da cozinha!




domingo, 12 de setembro de 2010

Rifa-se um coração!

Rifa-se um coração quase novo. Um coração idealista. Um coração como poucos. Um coração à moda antiga. Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário. Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado, e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas. Um leviano e precipitado coração, que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu "...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...". Um idealista...Um verdadeiro sonhador... Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural. Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar. Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros. Esse coração que erra, briga, se expõe. Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões. Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos. Este coração tantas vezes incompreendido. Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional que abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto. Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes. Um órgão abestado indicado apenas para quem quer viver intensamente contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas: "O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento. Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo. Um órgão mais fiel ao seu usuário. Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga. Um coração que não seja tão inconseqüente. Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado. Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo. Um simples coração humano. Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado. Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.

Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e a ter a petulância de se aventurar como poeta!