quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A Casa dos Sonhos

Vou compartilhar aqui, um dos textos mais queridos e importantes pra mim, o texto que escrevi após ter saído da casa que eu tanto amava e que vivi quase toda a minha vida, a casa da minha bisavó.

"O tempo não pára! Somente a saudade é que faz as coisas pararem no tempo..."

Foram quatorze anos... na penumbra da noite ou no clarão do dia, quatorze anos, vivendo em um lugar que ainda invade meus pensamentos e sonhos nas noites! Acho que quando coloquei meus pés ali, devo ter tido a certeza de que lá se passariam anos maravilhosos, com as pessoas mais queridas da minha vida. Alguns podem considerar um apego material, mas eu, já prefiro encarar como um lugar de sonhos, sonhos que não se apagaram, e que neles contém a história de muitas pessoas que por ali passaram. Minha maior diversão era aquela varanda! Ah, como eram divertidos os dias e as noites. Daquela varanda eu pude enxergar muitas coisas, coisas que eu preferia não ter visto e coisas que me fizeram chorar de tanto gargalhar. Sentada nas muretas de pedra eu observava tudo. Era uma rua movimentada, porém sossegada, exceto nos carnavais! Era uma folia e tanto, meus olhos brilhavam ao sair lá fora e ao ouvir as primeiras batidas do trio, o qual parava bem na frente de casa, fazendo a casa toda estremecer. Meus carnavais de infância não poderiam ter sido melhores. Aquela varanda foi cenário para muitos acontecimentos, ponto de encontros, reuniões familiares, encontro de amigos e desconhecidos, música que acordava os vizinhos, e felicidade que não acabava. Foi ali onde meu primeiro beijo quase aconteceu, ali eu me escondia quando tinha um pequeno conflito com alguém, muitas vezes por jogar aquelas espuminhas e acabar com a chapinha das moças, assustava as pessoas na rua, e até tentei montar alguns pequenos comércios, como, abrigo para cachorros de rua, venda de bijuterias colocadas em um fino isopor, que sempre se quebrava, e biscoitinhos de leite que acabavam sempre na barriga de um de nós.
Nas noites, eu me deitava em uma pequena caminha ao lado de meus avós, fechava meus olhos, e pedia a Deus que aquele lugar fosse eterno, que as pessoas que comigo ali viviam fossem imortais e que a felicidade que reinava em meu peito não tivesse fim. Ali atrás da casa, havia uma jabuticabeira, nela eu degustava sabores que cheiravam a diversão! Junto a tantos de meus primos, passávamos os dias brincando, gatos e cachorros intrusos não nos escapavam, e até pintinhos tentávamos ensinar a voar, tombos, risos e choros. É, ali também houve discussões, desentendimentos, coisas que eu prefiro não lembrar, embora não as tenha esquecido também. Dias de chuva, não eram motivo para não se divertir, só com aquelas deliciosas guloseimas das quais minha bisavó se orgulhava de preparar á qualquer hora, já era motivo de festa, aliás, todos os dias eram dias de festa. Não só quando eu era apenas uma criança, mas mesmo depois de crescida, ali era o lugar do qual eu me orgulhava de morar, o lugar que junto das pessoas que eu tanto amo, me fizeram extremamente feliz. Hoje, algumas das pessoas que fizeram parte dessa história já não estão mais presentes, se foram junto com casa, se foram como a minha infância se foi. Mas em mim deixaram uma marca, a marca da saudade que morrerá comigo, saudade de um tempo que me fez mulher, um tempo que curou meus medos, desvendou um futuro, e fez do passado inesquecível. O tempo onde aquela casa existiu, sim, aquela linda casa, a minha casa dos sonhos...

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